quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Francisco Simões Ferreira Brandão, Homen da Mealhada
Em Portugal 1896, a vida política tornara-se instável. O Poder Monárquico perdia crédito, enquanto o Partido Republicano aumentava sua contestação diante da ditadura que então dominava. Havia já passados cinco anos da primeira tentativa de golpe contra a monarquia, e novamente se alvoroçavam os republicanos com a possibilidade de degredo. (REIS, 1984)Foi no ano de 1896 que emigra para terras brasileiras o senhor Francisco Ferreira Simões Brandão, português de Mealhada, vindo de família aristocrática, então com seus 23 anos de idade e com um recente diploma de Farmácia pela Universidade de Coimbra. Era ele próprio um republicano, ou como diria sua neta Maria Eugénia: "um subversivo". Vem para o Brasil justamente para evitar uma deportação mais humilhante para terras africanas, onde Portugal conseguia ainda manter suas colónias, embora diminuídas perante a ganância imperialista inglesa.Chega ao Brasil com uma carta de recomendação para actuar como farmacêutico em Bragança Paulista, onde trabalha até surgir a oportunidade de emprego na Farmácia Popular, em Santo António da Cachoeira, hoje Piracaia, ao pé da serra da Mantiqueira, no Estado de São Paulo.
Santo António da Cachoeira surgiu do bairro de Cachoeira, situado à margem do rio de mesmo nome. Quando da chegada de Francisco Brandão contava com uma população inferior a 18 mil habitantes, em sua grande maioria rural, mas que movimentava o centro urbano nos finais de semana com a frequência à missa, aos encontros nas praças, para os negócios e feiras. Prosperou graças ao café, que lhe rendeu um período de prosperidade e que possibilitou a formação de uma pequena burguesia agrária na região.
Brandão casa-se então com Maria Eugénia de Carvalho, filha de Caetano de Carvalho, dono da Farmácia Popular, tornando-se sócio da mesma e posteriormente mudando seu nome para Farmácia Brandão. Tornou-se figura benquista na cidade, relacionando-se e obtendo o respeito tanto da elite quanto da população em geral. Irá exercer outras actividades além da farmácia, como ser o agente local do jornal O Estado de São Paulo. E, principalmente, irá fotografar, e fotografar muito. . capim.Encontramos no conjunto de sua obra alguns temas recorrentes, que acabam várias vezes por se inter-relacionar. Podemos identificar como tema principal o retrato, onde podemos incluir um outro grande tema, sua família. Usava da pose, apropriando-se de elementos tradicionais da fotografia de estúdio, mas demonstrava uma relação com seus modelos que se diferenciava da do fotógrafo profissional, uma relação de proximidade que a intimidade com os personagens de suas fotografias lhe proporcionava. Ao contrário de seu filho, não fazia fotografias com fins comerciais, mas retratava constantemente seus amigos, parentes e, muitas vezes, a si próprio. Essa é outra característica de Brandão: ele não se contentava em ser apenas o operador da câmera, mas apreciava aparecer em suas fotografias, seja em auto-retratos seja acompanhando seus amigos e familiares.Nas fotos de família podemos identificar também o uso recorrente da pose, Brandão retratava seus filhos em diversas fases de desenvolvimento, colocando-os normalmente em ordem etária, mas variando e brincando com este. Mas não é sempre que a pose se faz presente; ele consegue retratar o quotidiano de sua família, como quando do nascimento de um filho, ou mostrando sua esposa na relação diária com os filhos, ou ainda seus sogros, num impressionante momento de intimidade familiar.O quotidiano, por sinal, será a grande marca das imagens de Brandão. Ele irá registar o dia-a-dia da cidade e de seus personagens, como as reuniões de amigos em frente à sua farmácia. Este será um ponto privilegiado de observação para Francisco, servindo-lhe de referencial. A Farmácia Brandão localizava-se numa das principais ruas de Piracaia, e frente a ela e de suas imediações serão registadas diversas cenas da cidade e de seus personagens.Os encontros e festividades fotografados serão muitos. De reuniões com os amigos, a reuniões mais solenes da elite da cidade, da chegada do circo às procissões e festas populares como a congada. Brandão fará ainda imagens de alguns profissionais actuando em suas áreas e seus estabelecimentos comerciais, como um costureiro, um dentista ou uma prensa de jornal Além do quotidiano da cidade, Brandão debruçou-se sobre a própria cidade, tomando-a como referente fotográfico Suas fotografias cujo tema é centrado em Piracaia são várias, destacando-se dentre elas uma série em que Francisco cria um inventário urbano, retratando-a rua a rua.
Brandão avança também pelo campo do experimentalismo na produção fotográfica, executando montagens no próprio negativo, com múltiplas exposições de uma mesma chapa. Este tipo de trocarem fazia parte do repertório dos fotógrafos do período, e podemos encontrar diversos exemplos de sua aplicação ao longo da história da fotografia. E Brandão utiliza-o muito bem, contrapondo uma técnica não tão apurada a uma grande criatividade em suas montagens. Brandão fez uso ainda de máscaras em suas fotografias, como para colocar textos ou alegorias nas imagens.Outro recurso utilizado por Brandão foi a foto-montagem. A partir de fotografias variadas, e utilizando-se de ilustrações, ele cria cenas satíricas ou cómicas, fotografando-as novamente e transformando-as de novo em um objecto fotográfico, como no caso das duas montagens referentes ao Carnaval de 1901.Ainda no campo da pose, Brandão irá criar narrativas com fotografias encenadas, e até sequências curtas com seus amigos e seus filhos, utilizando fantasias e montando cenários.Brandão passou ainda um longo período em Mealhada, Portugal, de 1936 a 1946.Seu interesse por fotografia, no entanto não se manteve com a idade, e quem continuou a fotografar com a mesma intensidade com que Francisco fotografava foi seu filho Caetano. Apenas em ocasiões especiais Francisco voltava a empunhar sua máquina fotográfica. O meu primeiro contacto com as fotografias de Francisco Brandão deu-se no Centro de Memória da Unicamp, para onde foram levados os negativos de vidro produzidos por Francisco Brandão e por seu filho Caetano Brandão, pelas mãos de André Boccato, fotógrafo que junto com o historiador Sandro Ferrari teve a sorte de conhecer pessoalmente Caetano, ou Seu Tetê, como era conhecido. A pesquisa realizada pelos dois serve-me agora como importante fonte primária. Ao iniciar minha pesquisa, fui a Piracaia, local de origem das imagens, e entrevistei Ailton Brandão, neto de Francisco e herdeiro das fotografias. Foi Ailton quem autorizou a doação do material que se encontra na Unicamp.
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Sou decendente de Francisco Simões Ferreira Brandão, moro no brasil, e gostaria de saber mais sobre a familia em portugal, se ouver algum interesse entre em contato...
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